O que pode ser real ou apenas uma fantasia?
- Sacher (contato: leopoldoverne@outlook.com)
- 29 de nov. de 2017
- 4 min de leitura

Quando falamos que BDSM é um fetiche, isso significa que o prazer erótico é obtido por algo objetal, isto é, não temos a supremacia da genitália, mas sim algo que nos enfeitiça (fetiche), nos excita e pode ser um objeto inanimado, uma parte do corpo, por exemplo, os pés ou um tipo de comportamento, no caso específico, a dominação e submissão entregando o poder das suas vidas nas mãos de outra pessoa que se espera irá humilhar, causar dor física ou psicológica, real ou simulada. Esse comportamento específico, que denominamos BDSM tem regras e normas, já que estamos falando de causar sofrimento em uma pessoa e isso parece uma contradição, já que o ser humano busca justamente fugir disso, menos os sadomasoquistas. Mas o que se pode fazer realmente ao infringir humilhações no outro?
Esse questionamento se aplica ao limite do ser humano. Até quanto se pode humilhar e degradar outra pessoa sem lhe causar trauma ou tirar sua dignidade? Quando se entra numa relação assim, de corpo e alma, 24 horas do dia nos 7 dias da semana é comum que o submisso deixe muitas regalias que tinha, como conforto, orgulho, vaidade, independência, mas jamais sua personalidade, posição

profissional,opiniões. Se seu novo dono for suficiente financeiramente para manterem-se, pode-se pensar em abandonar sua profissão, caso não implique em grandes perdas para que possa realmente vivenciar esse tipo de escravidão e submisso a ordens, disciplina e adestramento, adaptar-se a certas ordens e situações constrangedoras até mesmo em ambientes públicos.

A questão da dominação psicológica é a mais complexa, pois a prática de sessões de punição física é objetiva, as proibições e os tipos de instrumentos, invasivos ou não, enfim, nesse campo as coisas são palpáveis, visíveis e combinadas de ante mão, mas nas humilhações não é possível. O que eu chamo atenção nesse caso é que xingar para desumanizar ou despersonalizar alguém requer cuidados máximo. Palavras comuns no nosso meio, como verme, inútil, capacho, brocha, latrina, cadela, piranha, vadia e por ai vai são necessários e aceitáveis. O que não se pode fazer é usar xingamentos em que ofende de fato a pessoa porque ela realmente é isso, por exemplo, eu sempre estou editando textos teóricos, mas ninguém me vê praticando nada e alguém vem e fala: “Ficar teorizando é fácil, mas você não é um verdadeiro botton porque não vejo nada que fez”. Isso é algo que

poderia me ofender de fato. O que eu quero demonstrar é que quando xingamos, falar que é um verme é algo que obviamente a pessoa não é e nunca será, mas chamar um homem latino de broxa e ele realmente tiver impotência sexual, ai a ofensa pode ser real e saímos do jogo e a pessoa ficar realmente traumatizada.
Existe outro tipo de dominação em que se não for bem administrado pelo top o botton também fica totalmente irritado, sem prazer e sem dar retorno ao Top e é muito mais freqüente entre submissos homens e Dommes do sexo feminino, que é o chamado FinDomme, um fetiche onde o botton se intitula “Money Slave” e tem prazer em dar dinheiro ou presentes a dona e se a

coisa for mais intensa, até permitir que ela administre seus gastos supervisionando e controlando suas despesas financeiras. Para ser BDSM é obvio que essa prática vem acompanhada de humilhação erótica e até a castidade forçada, mas também poderá haver nenhuma intimidade entre os indivíduos. Não é incomum que o “escravo” acompanhe sua dona nas compras para pagar. O fato é que quem tem o desejo de sustentar a mulher, de mimá-la com presentes, de se colocar nesta posição é o homem e não pode ser uma exigência da Domme, senão seria uma exploradora.

No caso de submissas, já vi de tudo, ou conceder todo o seu dinheiro economizado ao seu dono ou dar a senha do banco para que ele controle tudo anulando sua autonomia. Aqui se trata de uma devoção da escravidão financeira ou de ser dominado de forma financeira.
Nesse caso específico da dominação financeira devemos observar o seguinte, o desejo de ser “trouxa” é do botton, portanto é imperdoável que logo de início se peça algum dinheiro ou algo do gênero, somente porque ele é um Money slave, isso ofende e fica a impressão do oportunismo, da extorsão e não basta falar que ele é um Money Slave, que ele está ai para isso. Isso não é real, já que temos outras modalidades de FinDom como o PayPig, Human ATM

ou Cash piggie, que seria botton que presenteia, mima seu Top, paga contas, recargas de celular ou mesmo doações financeiras, mas não com a conotação que estamos abordando, pois o Money Slave é quem detém o valor do que ele vai dar ou fazer para a dona e certamente ele tem que estar realmente se sentindo dominado e humilhado para quem receberá o dinheiro, quer dizer, deve haver uma troca real do dinheiro dado pela sensação real de submissão. Não confundirmos com as profissionais (pro-domme) onde as coisas são preestabelecidas pela contratante, o preço e o que ela vai fazer com o botton.
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